segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Infância.

Corre, corre, corre,
até que a boca fica seca, e a sensação de cansaço é satisfatória.
"você corre muito rápido, eu não consigo te pegar..."
desisti, mas não sei por qual o motivo tomei aquela decisão,
então ele ainda correndo pela rua de paralelepipedo vai diminuindo a velocidade, e olhando
para trás, era de costume ele fazer isso, correr e olhar pra trás, isso me dava uma baita aflição mas esse costume era dele, era de correr atrás da pipa e ficar olhando para ver onde ela iria cair.
Algumas vezes tentei acompanhar, mas eu sempre ouvia um:
"Cuidado vocês dois!"
Correr era a sensação mais gostosa, eu me sentia um animal, feroz por dentro e totalmente livre, ficava mole quando parava, ele vinha me fazer cócegas até meus pulmões ficarem sem ar.
Íamos caminhando até a casa da Bela, sobíamos as escadas com a ajuda do corrimão, como dois bichos preguiças, sentíamos o cheiro do café que estava sendo passado, do bolo que já havia saído do forno por alguns instantes, corríamos até a cozinha, passavamos pela sala e lá estava o meu avô ouvindo o radinho de pilha bem perto do ouvido, concentrado em um universo só dele; chegávamos na cozinha famintos, lá estava a Bela de costas, nos esperando e terminando de lavar a louça...

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